quinta-feira, 13 de agosto de 2009

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Entrevista com o Diretor de Projetos do Núcleo Omi-Dùdú, Bartolomeu Dias da Cruz
“A estética vai além da aparência. Ela proporciona sentimento de pertencimento e bem estar valorizado''


Entrevista com Bartolomeu Dias da Cruz, especialista em estética negra e filósofo
Bartolomeu Dias da Cruz, Presidente do Núcleo Omi-DùDú, especialista em estética negra e filósofo formado pela Universidade Católica do Salvador, discorre sobre a importância social e simbólica do cabelo na constituição da identidade negra.

Qual o significado social do cabelo e os sentidos a ele atribuídos?

Nessa sociedade, temos várias formas de representações estéticas, entretanto, a que impera é a européia. As inerentes à cultura negra ficam relegadas a um plano de inferioridade, relacionando-se ao conceito de feiura, de fealdade. A importância do cabelo, particularmente na juventude, reside no fato que ele proporciona sentimento de pertencimento e bem estar valorizado. As pessoas se sentem pertencidas, bonitas, aceitáveis, se sentem na moda ou se sentem participantes de um contexto social. A estética influência na formação da personalidade. Vivemos em uma sociedade extremamente vaidosa, uma sociedade que cultiva a beleza, a aparência, o bem estar físico. Por isso, a estética é muito importante para a comunidade negra. A estética vai além da aparência. Ela traz um resultado muito importante que é a formação interna do ser, do jovem, do cidadão.

O cabelo demonstra a forma que a pessoa se vê e a forma que a pessoa é vista pela sociedade?

Não necessariamente. A partir do cabelo adotado a pessoa se vê e expressa o que a sociedade quer vê de acordo com os grupos, com as comunidades. Geralmente, quem tem o cabelo liso e loiro não vai querer encrespar o cabelo para parecer negro. Entretanto, muitos negros que têm o cabelo crespo podem se sentir influenciado e alienado ao ponto de querer alisar e dourar seus cabelos. O que eu quero dizer é o seguinte: a comunidade negra brasileira está em busca de uma aparência, nós não temos ainda definido, estamos fazendo experiências, laboratórios. Se você pode perguntar a várias mulheres negras, elas levam horas para poder vestir uma roupa e formular penteados. Essa inquietude, normalmente, é confundida com liberdade, só que não é liberdade.Sair a cada dia, com um modelo de cabelo, é também um conflito,pois demonstra que você não se sente confiante com sua aparência. Será que estou feia? Ainda impera no inconsciente coletivo da comunidade negra o desconforto pela aparência.

Então, o cabelo possui um capital simbólico muito grande ?

Ele é um dos principais instrumentos de auto- afirmação. Se você está em um grupo de negros de cabelos trançados você se sente pertencida. A estética precisa se fortalecer no ponto de vista da confiança, precisamos fortalecer a militância negra com confiança.

“Cabelo ruim” e “Cabelo bom”, que no dia- a-dia as pessoas reproduzem, expressam o conflito racial entre negros e brancos no Brasil?

Essa questão de “cabelo bom” e “cabelo ruim” é uma confusão baseada em cima de uma ignorância, um estereótipo perversamente introduzido dentro da comunidade negra com o objetivo de inferiorizar as pessoas. O cabelo é uma extensão do corpo. O corpo ou é sadio ou é doente. Portanto, o cabelo não está no conceito nem de bom ou ruim. Cabelo é cabelo.
Tem uma frase que diz: “Ser Negro é tornar-se Negro.” O que você tem a dizer sobre isso?
Eu posso até concordar em parte com essa idéia de que ser negro é tornar-se negro.A palavra tornar-se é uma transformação que pressupõe uma metamorfose, na qual podemos concluir que é um processo de militância, de consciência. Tornar-se vem a ser uma pessoa que tem consciência e pleno conhecimento da sua situação existencial seja ela étnico-racial ou humana.


Então, tornar-se negro é uma revelação que perpassa pela militância e pela intelectualidade.
Como você avalia o cenário da estética negra baiana?

Nós temos uma população de aproximadamente 81% de negros no qual a maioria se submete a tratamentos estéticos. O Núcleo Omidudu investe em estética porque acredita que o negro precisa ser tratado pelo negro. É diferente quando você entra no salão e uma pessoa negra cuida de você. É muito diferente. Um negro não tem nojo de pegar em outro negro. Imagine um esteticista alienado, acostumado a alisar cabelos, como ele vai se sentir bem? Como ele vai dedicar um bom atendimento a alguém de cabelos crespos?

Um comentário:

  1. como posso ter contato com vcs? trabalho em creche como vcs podem nos visitar?

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